quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

“Durante a infância, temos a capacidade de acreditar em qualquer coisa que injetam em nossa mente. Um dia, já crescido, me peguei apagando a luz do meu quarto e saindo correndo, como uma criança com medo do bicho-papão. Perguntei a mim mesmo o porquê de estar fugindo. Percebi que algumas das nossas manias infantis demoram para amadurecer e notei que restavam algumas raízes desse medo ingênuo no subsolo mais profundo de mim. Os mais céticos certamente acham ridículo a minha maneira de tentar fugir do escuro e eu sei, hoje eu também acho. De fugir de um singelo ambiente no qual simplesmente está em falta de luz. Mas para mim, a escuridão destrancava as prisões do medo. Libertava as angústias de suas celas e as deixavam vagar pelos ares inertes e completamente cegos à procura de um lugar para exercer poder. Ninguém desconfiava que na escuridão eu achava que poderia ser encontrado tudo, inclusive o nada. Ninguém entendia o terror que era se sentir perseguido mas não saber onde pisar, em que direção seguir sem tropeçar. A escuridão me assustava porque me trazia a sensação de estar sendo vigiado. Porque me deixava a sós comigo mesmo, junto com a minha bagunçada consciência. Fugir do breu à procura da luz era um instinto de sobrevivência, pela sensação que era de ter alguém atrás de mim. Demorou um pouco, mas um dia eu descobri que esse ‘alguém’ na verdade era apenas a minha mente cismada em pregar peças. De que passei anos da minha vida correndo do escuro, correndo de um suposto alguém invisível, mas que na verdade o que sempre fiz foi correr de mim mesmo, da minha própria mente inventora. Do meu próprio eu. Porque um dia a gente cresce e começa a finalmente entender os códigos das mentiras que nos foram apresentadas. Minha infância ingênua, inocente e medrosa se foi, porque na verdade eu nunca tive medo das sombras em si. Eu tinha medo de não conseguir enxergar nada. O medo que eu sentia era do que a minha própria consciência criava e ele foi convertido à um medo de mim. Quando criança a gente acredita em qualquer coisa, em qualquer fantasia que nos contam e o medo que eu sentia não era da escuridão propriamente dita, mas era do que minha mente fora capaz de acreditar. Eu sempre tive medo da minha própria mente. Durante todo tempo o que fiz foi sentir medo de mim mesmo.”

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